ATÉ AMANHÃ...
- Finalmente, a minha busca terminou…
- Entre. Saia do frio e chegue-se à lareira.
Entrou, tirou as luvas grossas e chegou-se ao fogo que ardia na lareira de pedra.
- Gastei anos de vida, e a fortuna da família quase toda, mas agora sinto que valeu a pena...
- Dinheiro mal gasto, e tempo perdido.
- Eu não sei como fazer isto, ansiava por encontra-lo e agora nem sei como começar…
- Desde que não grave a conversa, conversemos…
- Como é que alguém que vive para sempre, que tem dois mil anos - disse, fazendo aspas com os dedos - vem parar aqui, sozinho a este fim de mundo gelado?
- Precisava de me afastar dos homens - respondeu encolhendo os ombros…
- Nasceu em 623 na escócia e quando chegou aos 30 anos parou de envelhecer, até hoje…
- Na aldeia onde nasci, todos os primeiros filhos homens que nasceram nesse ano, 23, pararam de envelhecer aos 30 anos; Ninguém nunca soube porquê.
- Eu deparei-me com a lenda por um acaso e passei anos e anos metido em bibliotecas e alfarrabistas estudando-a; não houve alguém que acreditasse. Mas agora estou aqui a falar com o homem que nunca morre…
- Morreram 22, só resto eu, portanto o nunca morre…
- Morreram por causa da estupida crença de cortarem a cabeça uns aos outros para viverem mais tempo. Eu nunca vi isso escrito….
- Eu nunca cortei a cabeça a ninguém e contínuo com 30 anos… Felizmente os últimos dois que lutaram conseguiram degolar-se um ao outro, senão teriam vindo atrás de mim…
- Eu li que não conseguem ter filhos mas você teve dois…
- O Vincent, que nasceu em 1722, era mestiço… e o Leonard, que nasceu em 1886, comprei-o a uns vizinhos pobres, para oferecer à Margareth, minha esposa nesse tempo, que ansiava um filho… Amei-os até ao fim dos seus dias. Mas é muito doloroso ver um filho definhar...
- E também nunca mais casou. Essa foi a sua última mulher…
- Pelos mesmos motivos… chegou a um ponto que me cansei de ver morrer as pessoas que amava…
- E porque se isola do mundo?...
- Eu sou o homem mais rico da terra, tenho castelos, terras, ouro em cofres-fortes espalhados pelo mundo. Sei quanto tenho em cada um, onde… Mas não os posso reclamar, nem usar… e assim estou aqui, a ver passar o tempo, segundos para mim, anos para si…
-Mas podia viver rodeado de tudo o que o mundo tem…
- Posso nada. Eu que vivo para sempre não existo, desde que inventaram os computadores. Não consigo tirar passaporte, o cartão de cidadão, ou uma certidão de nascimento…