LUSCO FUSCO
O Zé estava lixado com a vida; o ambiente em casa degradava-se e o negócio de construção ia de mal a pior.
Vagueava pela cidade e entrou num bar de aspeto manhoso, pensando que ali estaria à vontade sem que alguém o conhecesse.
Estava perdido nos seus pensamentos olhando o copo de vodka, pensando no sentido da vida, onde teria falhado e porque Deus o castigava.
Numa mesa do canto estavam sentadas três meninas, vestidas de lycra e renda, bebericando uma cola. Uma delas fez um gesto às outras e levantou-se…
- Olá, disse com sotaque espanhol, enquanto se baixava para lhe dar dois beijos. Me pagas um copo, ou queres divertir-te?
Zé mirou-a de cima abaixo…
- C’um carago… Afinal Deus é fino como ò caraças e escreve mesmo bem nas linhas tortas… Domingo, fui a uma missa e tava lá uma gaja mesmo boa, a tocar piano e a cantar aleluias, e aqui nesta tasca, onde um gajo se pode perder, apareces tu que ainda és pior qu’aquilo que tenho lá em casa…