SAHARA
O sol, inclemente,
Incendeia a areia,
Que me queima os pés.
Ando devagar,
Fugindo ao destino,
Dos que caíram,
E se deixaram ficar…
O primitivo instinto,
Não a esperança,
Dolorosamente,
Faz-me caminhar…
No fim deste degredo,
Se lá chegar,
Darei meus ossos,
A quem comprar,
Penhor de 10 rúpias…
Cubro a cabeça, com um pano,
Que não me pertence,
Porque, de meu nada tenho.
Não tenho pai,
Fui gerado pelo ódio;
Mãe,
Amamentado pela fome;
Nem nome,
Para além de “Desgraçado”;
Ou alma…
Porque não existo
Em nenhum coração,
Lembrança, ou lugar,
Que me recorde,
Quando o vento
Deste deserto,
Levar meus passos…
Da vida só levo um sonho,
De umas mãos
Torcendo um pano
Com água fresca,
Cobrindo-me a testa,
Febril de maleita,
Numa noite de luar.
Mas nem sei…