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João, soube do barulho e esperou escondido no escuro temendo que o pai fizesse algo muito violento. Ele já tinha experimentado a sua fúria; numa discussão levou uma facada na perna, rasgando-lhe a farda. Tinha-se alistado no exército como voluntário, maneira que encontrou para sair de casa.
Tinha boas recordações da sua infância e de como a vida corria bem com o negócio de canos de cimento, que trouxeram da França, mas depois veio a falência e o vício do álcool; a miséria, tanto monetária como moral, tomou conta do pai.
João, Manuel e José, eram os mais velhos, tinham nascido com intervalo de um ano entre eles e já tinham saído de casa. Depois veio a Teresa, um pouco mais tarde, e estava a servir em Braga. René, Rosa e Conceição nasceram uns anos depois com intervalo de dois anos entre eles. Quando a Rita nasceu já João tinha filhos mais velhos.
Quando o pai chegou, bêbado, encostou-se à porta da cozinha pronto a entrar, se a mãe gritasse por ajuda como tinham combinado, dizendo a si próprio que faria o que fosse preciso, embora a sua consciência continua-se a dizer que não poderia bater no pai. Foi-lhe ensinado na doutrina que era pecado…
Ouviu um estalo e as palavras alteradas “merecias muito mais mas por hoje fica assim”. Depois o silêncio. Da mãe não ouviu um grito, nem um gemido nem choro.
Esperou 10 minutos com os punhos cerrados, encostado à porta. Depois esta abriu-se e a mãe disse-lhe para se ir embora, que estava tudo bem. O pai já dormia…
João deu a volta à casa e bateu à janela do quarto dos pequenos. Rosa abriu…
- O pai está a dormir. Até amanhã.
Rosa olhou para os irmãos “já podemos dormir. Por hoje está tudo bem” e deitou-se. Aos pés dormia a Conceição e separado por uma manta pendurada no tecto, René.