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- Não lhe adianta estar pr’ai com falinhas mansas a ver se indromina o meu marido. Eu quero uma porta nova! Uma porta nova, ouviu? Você pensa que isto é alguma sucata?…
- Mas minha senhora eu só disse…
- Quero lá saber o que é que disse… O meu homem é fácil de enganar mas a mim não. Chame a polícia que vai pagar as vacas ao dono…
- Não é preciso, por uma coisinha de nada, ir agora para o seguro. Eu assumo o arranjo…
- Mas quero lá saber… Pensa que vamos meter o carro num sucateiro? O carro vai prá Mercedes, e quero uma porta nova.
O marido puxou-a ao lado por uma braço, com a esposa sempre a reclamar com um “está quieto, deixa-me falar…”
- Cala-te um bocado – falou baixinho - a culpa é nossa, ele está pela direita. Deixa-o pagar…
A mulher libertou-se do marido, com um gesto brusco e levantou a mão com a bolsa no ar, fazendo o gesto de lhe bater com ela, gritando ainda mais alto.
- Caralho homem… De tanto que te rebaixas, que daqui a pouco vêm-te o cu… A culpa é nossa o caralho… Ai que nervos, meu palerma… Então nós não vimos na estrada principal?... Nem que viesse aqui o presidente da república, a culpa era nossa…
- Pai, hoje tive inglês.
- E que tal, filho?
- Já sei o nome da professora: “Tia cher”…
Pode-se, e deve-se, falar de drama humano, ainda mais para pessoas que nada tiveram a ver com esta crise, nem estiveram na origem da divida, nem tinham conhecimentos que lhes permitissem antever as consequências que iriam experimentar nas suas vidas, mas você, Drª. Manuela Ferreira Leite, agora titular do cargo de arauto dos pensionistas e reformados, é de elementar justiça todos os cortes que lhe fizerem, que só pecam por escassos e tardios…
Se lhe servir de consolação, considero também que não é a única a merecer os mesmos.
- Pá, tás ai a tirar, a tirar, e como ficam as pessoas?...
- Que pessoas pá? Eu só estou a apagar números numa folha de excel…
Como é possível qua aja pessoas que arriscam as suas vidas, dos filhos e familiares, só para viverem do lixo da velha Europa, fugindo de misérias, para nós imagináveis, e que a resposta à tragédia, desta velha Europa enternecida e chocada, seja, mais policias, armas, barcos e aviões, para patrulharem as águas que nos separam?…