- As paredes trocaram com o teto e a cama parecia que andava às voltas. Tinha que me levantar e andar de um lado para o outro. A minha mãe começou a pregar aos berros se eu andava ao macho. Nunca mais quero desse veneno, cruzes - dizia a Beatriz, abatida depois de passar a noite em claro…
- Ai, eu também andei de um lado para o outro – retorquiu a Rosa – só me vinha à cabeça, passar o chão a pano e lavar a roupa, isto a meio da noite.
Rosa era cozinheira na “Luisinha da Venda”, mercearia, café e tasquinha, e a Beatriz era a criada de quartos. No dia anterior ao fim do almoço, estava um pacote de café ao lado da cafeteira. Rosa pegou nele, e pensou “cheira bem”…
- É isto que as pessoas vêm cá beber ao fim de comer…
Beatriz levantou-se e pegou no pacote; “parece cevada” disse.
- Dizem que é mais forte, que vem do Brasil.
- E como é? Vai ficar a olhar com isso na mão ou vamos experimentar – disse a Beatriz toda despachada. A Beatriz era uma moça baixinha e gordinha, de espirito alegre e brincalhão, mal falada na freguesia por andar de minissaia.
Rosa aproveitou a água quente e fez o café, como habitualmente fazia a cevada da manhã. Depois pegou em duas chávenas e começou a servir…
- Só esse bocadinho?...
- É assim que eu vejo a servir…
- Não, assim nem chega lá baixo; – levantou-se e pegou em duas malgas de sopa – bote aqui…
Encheram as malgas e começaram a beber em pequenos goles…
- É bom, mais forte um xixinho que a cevada – Beatriz poisou a malga e limpou a boca com as costas da mão.
Nessa tarde, a roupa, que normalmente, lhe demorava a jornada toda, engomou-a numa hora, e ainda lavou o terreiro novamente, os vidros novamente e metade da estrada…
Rosa, fez dois bolos, e às quatro já tinha o jantar pronto…