O seu aspecto intimidava, mas era um cão meigo e gentil; um bom gigante, que trocava a comida pela liberdade. Muitas vezes o fui procurar, passava da meia-noite, porque se esquecia, quando desaparecia, nas suas voltas, de voltar a casa.
Passos desengonçados, parecia correr, quando andava, lingua de fora, cabeça levantada cheirando o ar.
Não sei se existe um céu para cães, provavelmente não, mas se houver, estará lá porque mereceu.
Talvez esteja, ao lado do Tejo, o primeiro cão que tive, aos cinco anos, um refeiro branco e amarelo, com o focinho castanho que tinha um ódio de estimação do Fernando, o meu amigo de infância, ao lado do Skipe, pequeno e atarracado, gordo e anafado, do Burrinho, o mais inteligente e desconcertante dos cachorros que conheci, da Cebolinha, cadela de apartamento até ao meio da vida e que descobriu a liberdade na minha casa, correndo o campo de lés a lés, estará também ao lado do Jack, o pastor alemão brincalhão e um pouco inocente, sempre criança, do Bobi o cão com a personalidade mais humana que conheci, meio bom malandro, meio vadio, que só estava feliz na rua, da Bé, cadela irrequieta que viveu muito em pouco tempo.