Quando o pároco começou a falar, da boca saiu-lhe um “ámen”, e de boca aberta foi ficando vermelha, envergonhada, sentindo-se mingar a cada palavra que lhe chegava aos ouvidos. Ao sair da fila tentou agir de forma o mais normal possível, e ao chegar ao seu lugar, disfarçou, fazendo cara, de alguma coisa esquecida lá fora, e saiu, passo ligeiro, sem olhar para trás. Caminhando apressada, a raiva ia substituindo a vergonha, e cerrando os punhos, gritava baixinho, “cabrão, cabrão, cabrão…”, tentando tirar da cabeça as palavras do padre, que lhe ressoavam com o eco da igreja: “Minha senhora, sendo conhecedor da sua situação familiar, pecaminosa, em consciência não lhe posso dar a comunhão, pelo que agradecia que saísse da fila...”
Durante a semana evitou sair, esperando que o falatório cessasse, ou diminuí-se. E como falaram. Sabia-o, porque havia sempre alguém que fazia questão de lho comunicar, pondo sempre as palavras em nome de outro alguém.
Resolveu a questão, frequentando outras igrejas, mas as palavras do padreco, como começou a chamar-lhe, não lhe saiam da cabeça, e o medo do inferno, começou a entranhar-se em si. “Mas como resolver a situação, como?” – perguntava-se.
Maria dos Anjos tinha enviuvado vai para dez anos, do Sargento Gaspar, e vivia à três anos, com um seu vizinho, um solteirão que ainda casada já lhe empiscava o olho, e que insistente a conseguiu levar ao pecado, passado o luto da alma. E nunca tinha pecado de tal forma com o autoritário Sargento.
Uma noite, deitada, contando as horas, teve uma ideia…
- Zé acorda. Diz-me uma coisa – disse abanando o companheiro que dormia virado para o outro lado - a CEE é tudo do mesmo país, não é?
- Acho que sim. Porque queres saber isso a esta hora?... Deixa-me dormir…
- É que podíamos ir casar à Espanha. Assim ninguém sabia e ficávamos legais.
- Que raio de ideia. E porque é que ninguém podia saber?...
- Que carago Zé, então?... Assim podia continuar a receber a minha reforma do falecido.
A farmácia do hospital, uma vez que fica no centro da cidade, não tem espaço para estacionamento, e por isso deixei o veículo com as rodas da frente em cima da passadeira, e em passo de corrida dirigi-me ao balcão para levantar um frasco de um manipulado qualquer de nome esquisito, para a área de engenharia, e que tinha sido pedido por telefone 20 minutos antes.
A menina que me atendeu, depois de despachar um casal que insistia e insistia que o medicamento que estavam a comprar tinha comparticipação, apesar de na embalagem dizer o contrário, não estava a par do assunto e foi chamar a chefe, que por sua vez também não sabia, e ia chamar o técnico do laboratório.
E eu a ferver, olhando para a porta, sempre há espera que um policia aparecesse para passar a multa, uma vez que a esquadra é mesmo por trás do edifício, apesar de ter ligado as 4 piscas, que, ao que parece, justificam todos os maus comportamentos rodoviários…
Neste momento aproxima-se de mim uma Freira, magrinha, carcomida pelos muitos anos acumulados nos ossos, olhos brilhantes lacrimejantes, e poisando-me uma mão levezinha no braço disse:
- Não se preocupe menino, que vai correr tudo bem.
Olhei para ela e sorri, e apesar de não ter ficado mais descansado, acabou por correr tudo bem. O técnico do laboratório, sabia o que eu queria…
No seguimento de uma ideia, tida ao adormecer, manda o governo na pessoa do Excelentíssimo Sr. Eng. José Sócrates, que se publique este Decreto-Lei, depois de um consenso alargado entre as forças politicas com representação parlamentar, e do acordo estabelecido entre o PS e o PSD, que regulamenta o pagamento de portagens nas vias identificadas como SCUTS, a partir da sua entrada em vigor.
Artigo 1º - Obrigatoriedade
Todos os veículos automóveis, que circulem nas vias identificadas como SCUTS, terão que pagar uma portagem, por meios electrónicos, proporcional ao uso das mesmas, com as excepções identificadas no artigo seguinte.
Artigo 2º - Isenções
Estão isentos do pagamento de portagens, nas vias identificadas como SCUTS, as seguintes excepções que a seguir se descriminam:
a) Membros do Corpo Expedicionário Português que combateram na Flandres;
b) Membros que estejam no serviço efectivo dos diversos corpos de manutenção da paz, em países estrangeiros;
c) Ex-combatentes da guerra do ultramar, que tenham prestado serviço entre 01 de Janeiro de 1969 e 31 de Dezembro de 1971;
d) Habitantes de Timor Lorosae;
e) Membros no activo, reserva ou reforma do Exército, Força Aérea e Marinha, militares da GNR, da PSP, do SEF, policia Judiciária, e dos Governos Regionais;
f) Reformados da Função Pública;
g) Reformados do Regime Geral;
h) Reformados de Cargos Políticos;
i) Veículos automóveis de matrícula portuguesa anterior a 1989;
j) Veículos automóveis de matrícula portuguesa superior a 1988;
k) Veículos automóveis de matrícula francesa do “batment 76”;
l) Veículos que não tenham “chip” electrónico de cobrança;
m) Veículos que circulem sem condutor;
n) Familiares, até ao 13º grau, de Membros das várias casas do Sr. Presidente da Republica, actual e anteriores, membros dos governos da república, actual e anteriores, Deputados da Assembleia da Republica actuais e anteriores, presidentes de Câmara Municipal, Juntas de Freguesia, e membros das Assembleias Municipais;